A enfermeira Indianara Carlotto Treco, representante da Secretaria Municipal de Saúde, utilizou a Tribuna Livre para apresentar as ações realizadas durante o mês de outubro, em alusão à campanha Outubro Rosa. Ela destacou que a iniciativa tem como principal objetivo a conscientização sobre a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer de mama, o mais incidente e com maior taxa de mortalidade entre as mulheres, com média de 73 mil novos casos por ano no Brasil. Também abordou o câncer de colo do útero, terceiro tipo mais frequente na população feminina, cuja taxa de mortalidade é de aproximadamente 5%. Indianara ressaltou estudos que apontam uma maior incidência desses tipos de câncer na região, possivelmente relacionados à exposição a agrotóxicos.
Durante sua fala, enfatizou que o município realiza ações de prevenção durante todo o ano, mas que, especificamente em outubro, as atividades são intensificadas. Foram promovidas coletas de exames preventivos e exames clínicos de mamas em todas as unidades de saúde, inclusive em horários noturnos, tanto na cidade quanto no interior, para facilitar o acesso das mulheres trabalhadoras. Destacou que essas ações estão em consonância com a Lei Municipal nº 2.554/2022, de autoria da vereadora Aline, que institui a Semana Municipal de Prevenção ao Câncer Ginecológico.
Além das atividades nas unidades de saúde, a Secretaria também participou de eventos comunitários, como a Caminhada da Mão Amiga e o Encontro dos Clubes de Mães, alcançando cerca de 3 mil mulheres. As ações incluíram palestras educativas em escolas e empresas, distribuição de materiais informativos, decoração temática das unidades de saúde e outras atividades alusivas à campanha.
A vereadora Aline Biezus parabenizou a enfermeira Indianara pelo trabalho desenvolvido como coordenadora da Atenção Primária em Saúde, destacando a atuação conjunta e eficiente da equipe da Secretaria Municipal de Saúde, incluindo a Dra. Eveline e a profissional Kelly. Elogiou a organização das agendas para coleta de preventivos e o atendimento integral às mulheres, com exames clínicos e encaminhamentos necessários. Reforçou que a Câmara está à disposição para colaborar com a Secretaria.
A vereadora Anelise Marx também elogiou o trabalho da Secretaria Municipal de Saúde, representada por Indianara, e enalteceu a importância das ações de prevenção realizadas nas comunidades do interior, facilitando o acesso das mulheres rurais. Parabenizou a dedicação da equipe, mencionando também a presença da Dra. Caroline na sessão, e reforçou o compromisso da Câmara em apoiar essas iniciativas.
O vereador Júnior Nesi agradeceu a presença da enfermeira, reconheceu a qualidade da campanha Outubro Rosa e o empenho da equipe da saúde municipal. Questionou sobre a possibilidade de ampliação de agendas e horários para coletas de exames, diante da alta procura relatada por pacientes.
Em resposta, Indianara explicou que neste ano já foi possível ampliar o número de coletas, inclusive com horários alternativos, como turnos da tarde e sábados, conforme sugestão das próprias pacientes. Informou que seis unidades de saúde estão realizando coletas noturnas e que as agendas estão sendo ajustadas conforme a demanda de cada bairro, com mais vagas sendo abertas onde há maior procura.
Na sua participação na Tribuna Livre, a Dra. Carolina Panis, professora da Unioeste e coordenadora do Laboratório de Biologia de Tumores, agradeceu o convite e destacou que, mesmo após dez anos de atuação na universidade, era a primeira vez que ocupava esse espaço para apresentar os trabalhos do laboratório, que hoje realiza o maior estudo populacional sobre câncer de mama no Brasil. Ela atua em conjunto com o Dr. Daniel, médico do CEONC, e juntos têm desenvolvido pesquisas voltadas à relação entre agrotóxicos e câncer na 8ª Regional de Saúde, que abrange 27 municípios e mais de 500 mil habitantes.
O foco principal do grupo é o câncer de mama, embora também pesquisem outros tipos como câncer de intestino, pulmão e leucemias infantis. O laboratório também realiza o mapeamento da exposição da população aos agrotóxicos, com estudos em andamento para expandir esse monitoramento a todo o estado do Paraná.
Dra. Carolina destacou que mais de 1.700 mulheres já participaram da pesquisa, com a coleta de sangue, urina e tecidos mamários – inclusive tecidos cancerosos, quando o diagnóstico já está presente. Esse trabalho científico, inédito em escala nacional e internacional, vem sendo reconhecido em congressos e publicações importantes, como The Lancet e Science. O laboratório é o único no mundo que estuda especificamente a relação entre câncer de mama e exposição a agrotóxicos, com destaque para a contaminação por substâncias como o glifosato.
Com o apoio de diversas instituições, incluindo Itaipu Binacional, Fundação Araucária e o CNPq, e parcerias com universidades como Harvard e Universidade do Arizona, o laboratório se tornou referência internacional. Dra. Carolina pontuou que esse reconhecimento decorre do enfrentamento de uma realidade local grave: o consumo de agrotóxicos na região sudoeste do Paraná chega a ser mais de 10 vezes superior à média nacional, atingindo até 70 kg per capita em alguns municípios.
Os dados levantados mostram que a incidência de câncer de mama na região é 42% maior do que a média nacional, e a taxa de mortalidade, 17% maior. Apesar de haver bom acesso ao diagnóstico e ao tratamento, o câncer na região se comporta de forma mais agressiva, o que indica que fatores externos – como a exposição aos agrotóxicos – estão interferindo diretamente na saúde das mulheres.
Ela detalhou estudos realizados com mulheres agricultoras da região, apontando que muitas se contaminam ao lavar roupas com resíduos de agrotóxicos, frequentemente sem uso de luvas ou qualquer proteção. Análises de urina e sangue revelaram níveis altíssimos de glifosato nessas mulheres, em alguns casos mil vezes superiores ao nível encontrado em mulheres da área urbana.
O laboratório comprovou que mulheres expostas a agrotóxicos têm 52% mais chance de desenvolver câncer de mama e, se diagnosticadas, têm 219% mais chance de desenvolver metástase, o que reduz drasticamente as chances de cura. Estudos mostraram ainda que o sistema imunológico dessas mulheres é comprometido, sendo menos capaz de combater tumores devido à presença de agrotóxicos nos tecidos.
Dra. Carolina também abordou a contaminação da água no estado do Paraná, destacando a presença de pelo menos 27 tipos de agrotóxicos, dos quais 11 têm potencial cancerígeno. Essa contaminação está associada a centenas de novos casos de câncer a cada quatro anos. Um estudo recente, realizado em colaboração com universidades internacionais, mostrou que células humanas expostas à água contaminada com glifosato apresentam alterações que facilitam a metástase.
Diante desses dados alarmantes, o laboratório está conduzindo o maior estudo brasileiro de mapeamento populacional da contaminação por agrotóxicos, com a coleta de urina de 10 mil pessoas da zona urbana e rural para análise da presença de 10 substâncias químicas prioritárias. O objetivo é entender como essas substâncias estão se relacionando com o perfil de doenças da população.
Como forma de ação concreta, o laboratório vem realizando oficinas educativas com agricultoras, ensinando sobre os riscos e formas de proteção. Um dos resultados mais impactantes dessas oficinas foi a redução significativa dos níveis de agrotóxicos em mulheres que passaram a usar luvas de borracha na lavagem de roupas. A simples adoção das luvas reduziu em quatro vezes os níveis de glifosato no organismo dessas mulheres.
Finalizando sua fala, Dra. Carolina fez um apelo para que o município considere políticas públicas simples, como a distribuição gratuita de luvas para mulheres agricultoras, via Unidades Básicas de Saúde. Ela ressaltou que um investimento aparentemente pequeno pode gerar um grande impacto na saúde pública a longo prazo. Enfatizou também que a situação atual, marcada por altas taxas de câncer e metástase precoce em mulheres jovens – algumas com apenas 23 anos –, precisa ser enfrentada com seriedade. E reforçou que a ciência não pode ficar trancada nos laboratórios: ela deve chegar até as pessoas para provocar mudança.
Durante a sessão, a vereadora Mara Fornazari Urbano expressou profunda gratidão e reconhecimento pelo trabalho da Dra. Carolina Panis e de toda a sua equipe. Destacou que, ao falar com a pesquisadora, sente um “peso no peito” devido à gravidade das informações apresentadas e à responsabilidade que carrega como procuradora da mulher na Câmara. Mara ressaltou que, embora a campanha do Outubro Rosa incentive a prevenção individual, a Câmara não pode se furtar ao dever de tratar o tema como um problema coletivo, que exige ação institucional. Reforçou que os dados trazidos não são opiniões ou especulações, mas evidências científicas concretas. Para ela, a situação é alarmante e envolve toda a sociedade — não apenas casos isolados, mas algo que afeta famílias inteiras e exige respostas urgentes do poder público. Ela fez um apelo para que todos pensem em alternativas e políticas que respeitem as gerações passadas e cuidem das futuras, especialmente quando os estudos já apontam impactos também nas crianças. Encerrou parabenizando a equipe e desejando que encontrem força e alegria para continuar o trabalho.
O vereador Marcos Folador também enfatizou a importância simbólica do momento, destacando que, mesmo após dez anos de trabalho da equipe, aquela era a primeira vez que o tema era debatido oficialmente na Câmara. Parabenizou a Dra. Carolina e sua equipe pela dedicação à ciência e à saúde pública, reconhecendo o quanto é difícil manter um trabalho de pesquisa diante de tantos desafios e renúncias pessoais. Ele ressaltou que os dados apresentados impõem ao legislativo e ao executivo o dever de pensar e implementar alternativas concretas, pois investir em ciência é também investir em saúde pública. Segundo ele, o desconforto causado pelas informações deve provocar inquietação e ação política. Marcos destacou ainda que o trabalho do laboratório extrapola os limites do município e já alcança reconhecimento internacional, o que mostra a relevância e o impacto da pesquisa. Para ele, até mesmo medidas simples — como a distribuição de um par de luvas — podem evitar contaminações graves e salvar vidas.
Já a vereadora Aline Biezus iniciou sua fala parabenizando a equipe e recordando sua própria trajetória como aluna da Dra. Carolina durante o mestrado, reconhecendo a exigência e a seriedade com que a docente trabalha. Aline, que já atuou em diversas áreas da saúde e atualmente está na atenção primária, enfatizou o papel fundamental da prevenção e o desafio ainda presente de conscientizar as mulheres sobre a importância de exames como a mamografia. Ela relatou experiências pessoais na área da saúde, mencionando casos de resistência de mulheres — e até de maridos — ao cuidado preventivo. Destacou que ainda é comum encontrar mulheres que há anos não fazem exames, o que compromete o diagnóstico precoce. Por isso, sugeriu ampliar a divulgação das informações apresentadas, talvez por meio de panfletos ou ações nas comunidades rurais e clubes de mães, com o apoio dos agentes comunitários de saúde. Aline reforçou que a mudança só virá com trabalho coletivo e se colocou à disposição, em nome de toda a Câmara, para apoiar projetos que fortaleçam a atuação do laboratório e ajudem a transformar essa dura realidade.