A secretária municipal de Saúde, Cíntia Ramos, utilizou a Tribuna Livre da Câmara Municipal para apresentar um panorama das ações, programas, projetos e dados referentes ao primeiro quadrimestre de 2025, com foco na gestão do SUS no município de Francisco Beltrão.
Destacou que o orçamento da Saúde para o exercício de 2025 é de R$ 176,2 milhões, dos quais apenas R$ 275 mil foram destinados a investimentos diretos até o momento. Apresentou dados sobre a estrutura da rede de saúde municipal, que inclui 32 unidades básicas de saúde (urbanas e rurais) e diversos serviços complementares como UPAs, CAPS, Centro de Especialidades Odontológicas, ambulatórios especializados e farmácias municipais.
Apontou o déficit de agentes comunitários de saúde, sendo 173 em atividade, com previsão e pedido de habilitação de mais 30, além de novas equipes de saúde bucal e Estratégia Saúde da Família. Na área de combate à dengue, registrou 402 casos confirmados em 2025 e nenhuma morte até o momento, com destaque para os mutirões de limpeza.
Na área de medicamentos, relatou que foi realizada licitação de R$ 16 milhões, fechada em R$ 9 milhões, garantindo o abastecimento das farmácias com os 330 medicamentos da REMUME. Informou também sobre o pagamento de dívidas do exercício anterior, com cerca de R$ 11,3 milhões já liquidados e um parcelamento previsto de aproximadamente R$ 2 milhões.
Apresentou ações como:
- Implantação do WhatsApp da Ouvidoria;
- Lançamento do programa “Cuide-se Mulher”, com 900 exames preventivos realizados em março;
- Adoção do aplicativo “Mais Saúde Cidadão” para agendamento de consultas e acesso ao prontuário do paciente;
- Início dos atendimentos no Hospital Geral Intermunicipal (HGI), que já opera com 61% dos leitos ativos, e com a clínica cirúrgica prestes a iniciar;
- Investimentos em equipamentos hospitalares (como monitores cardíacos e arco cirúrgico);
- Reforma e adaptação de um novo espaço para atendimento de crianças e adolescentes autistas no bairro Jardim Seminário;
- Parceria técnica em andamento com o ambulatório da Unioeste;
Reformas e construção de novas unidades básicas de saúde, com projetos prontos e recursos aguardando liberação estadual.
Por fim, mencionou a necessidade de rateio das despesas do HGI e da UPA com os municípios da região, diante da disparidade entre o custo operacional (R$ 1,7 milhão) e o repasse federal (R$ 300 mil), reforçando a importância da corresponsabilidade regional no financiamento da saúde pública.
Após a explanação da Secretaria de Saúde, o Senhor Presidente abriu espaço para que os Vereadores fizessem perguntas.
Vereador Oberdan cumprimentou a secretária Cíntia Ramos e iniciou sua fala com questionamentos sobre o prontuário eletrônico, demonstrando interesse em saber se haverá integração com a carteirinha de vacinação digital. A secretária confirmou que sim, o objetivo é organizar e unificar essas informações no sistema.
Em seguida, Oberdan abordou o funcionamento do Centro do Autista, questionando se haverá profissionais como fonoaudiólogos e neuropediatras. A secretária explicou que a equipe multiprofissional contará com fonoaudiólogo e que há tratativas para contratação de uma neuropediatra recém-chegada à cidade. No entanto, a atuação será dentro do plano terapêutico e não em consultas convencionais, dado o alto custo e escassez desses profissionais.
O Vereador também comentou sobre a alta demanda e o custo elevado do atendimento especializado para pessoas com autismo, pedindo celeridade na implementação do serviço. A secretária reconheceu a importância e afirmou que está buscando soluções.
Sobre os aparelhos auditivos, Oberdan questionou a destinação de recursos anunciados em 2023. A secretária respondeu que parte dos R$ 600 mil repassados ao consórcio regional seria destinada a Beltrão, mas se comprometeu a verificar a informação com exatidão, pois depende de onde foi feito o repasse (Consórcio ou Fundo Municipal). Explicou ainda que existe um limite mensal de liberação desses aparelhos e que, caso o nome do paciente seja repassado, ela pode verificar a situação individualmente.
Sobre as cirurgias de catarata, a secretária informou que atualmente não ocorrem mais em formato de mutirão, sendo realizadas de forma contínua em dois prestadores vinculados ao Hospital São Francisco. A fila de espera, segundo ela, é pequena.
Por fim, Oberdan mencionou a dificuldade de acesso a exames cardíacos e perguntou se há previsão de realizar esse atendimento em Francisco Beltrão. Cíntia esclareceu que as consultas são feitas via Consórcio e que os procedimentos mais complexos, como cateterismo e angioplastia, ainda dependem de vagas em Pato Branco e Cascavel. Demonstrou expectativa de que o novo Hospital Regional do Sudoeste possa, em breve, oferecer tais serviços localmente.
Vereador Emanuel Venzo iniciou sua participação agradecendo a presença da Secretária de Saúde, Cíntia Ramos, e questionando sobre o termo de consentimento enviado aos pais para vacinação nas escolas, que não especificava quais vacinas seriam aplicadas. A secretária esclareceu que se trata de vacinas do calendário oficial para a faixa etária da criança, incluindo Influenza, Febre Amarela, Tríplice Viral, Tríplice Bacteriana, HPV e Meningocócica. Ressaltou que os pais que não se sentirem seguros podem recusar a vacinação na escola e levar a criança à unidade de saúde. Enfatizou também a baixa adesão e a crescente desinformação sobre vacinas, pedindo que a população busque informações nos canais oficiais.
Na sequência, o Vereador abordou a falta de atendimento fonoaudiológico para crianças que não têm diagnóstico de autismo, destacando o custo elevado do serviço particular e a demanda crescente. A secretária explicou que há escassez de profissionais no estado — apenas 1.700 fonoaudiólogos para 399 municípios —, e que o município tem apenas uma profissional atuando na educação. Dois aprovados em processo seletivo simplificado (PSS) estão sendo chamados, mas atuarão na clínica do autismo. Diante disso, Cíntia mencionou que será necessário avaliar um credenciamento específico para ampliar a oferta desse atendimento a outras crianças.
O Vereador ainda levantou a questão da demora em filas de cirurgia, sugerindo campanhas de orientação sobre a documentação necessária. Cíntia respondeu que para entrar na fila, a documentação já precisa estar completa, pois passa por auditoria. Ela se comprometeu a encaminhar a lista das filas de espera, com os respectivos protocolos e por especialidade, destacando que a fila é transparente e disponível no portal da transparência. Apontou que especialidades como ortopedia enfrentam maiores dificuldades, pois o Hospital Regional, referência na área, deveria atender tanto urgências quanto cirurgias eletivas. Reforçou que, mesmo diante de limitações financeiras do SUS, as cirurgias eletivas continuam sendo autorizadas mensalmente, embora o desafio permaneça grande, como ocorre também em países desenvolvidos.
Vereadora Mara agradeceu as respostas já recebidas da Secretaria de Saúde em relação aos requerimentos encaminhados e destacou três principais pontos de sua análise dos registros da ouvidoria. Primeiro, chamou atenção para a alta incidência de solicitações sobre medicamentos não padronizados pelo SUS, questionando se essas demandas são oriundas de decisões judiciais. A secretária Cíntia esclareceu que, quando um medicamento não consta nos elencos municipal e estadual, o paciente precisa obter negativas oficiais — uma do município e outra do Estado — para compor o processo judicial, o que justifica o alto número de registros.
Em seguida, Mara abordou a participação da população no combate à dengue, destacando denúncias frequentes de locais com acúmulo de água. Questionou se houve avanço no pedido da tecnologia da fábrica Wolbachia (Mosquito do Bem) para Beltrão. A secretária afirmou que a visita à indústria foi realizada, a documentação já foi solicitada ao Ministério da Saúde, e que irá cobrar o coordenador responsável para dar andamento ao processo.
Por fim, a Vereadora relatou a falta de recepcionistas em unidades de saúde, o que tem causado transtornos para a população, especialmente em situações em que é necessário se deslocar até outra unidade. Também citou registros de mau atendimento por parte de recepcionistas. Cíntia explicou que, ao assumir a pasta, não havia dispositivos legais para contratação, mas que um PSS foi realizado. Até o momento, já foram chamadas mais de 30 pessoas, porém muitas desistem — inclusive candidatos com mestrado e doutorado. A rotatividade é alta, e algumas unidades ainda estão sem recepcionistas, embora novos servidores já estejam sendo alocados. Reconheceu a queixa sobre atendimento e informou que será realizada capacitação focada em acolhimento e comunicação, destacando as dificuldades inerentes ao trabalho com o público.
Vereador Bruno Savarro iniciou sua fala agradecendo a presença da secretária e abordou a vacinação nas escolas, destacando preocupações de professores sobre possíveis traumas em crianças vacinadas, que poderiam se recusar a retornar à escola. A secretária explicou que a vacinação segue determinações do Ministério da Saúde e da Secretaria de Estado, sendo realizada com o apoio da Secretaria de Educação e autorização dos pais. A aplicação ocorre em locais apropriados dentro das escolas, como bibliotecas ou brinquedotecas. Reconheceu a possibilidade de traumas, mas afirmou que isso pode ocorrer em qualquer ambiente de vacinação, já que atualmente as vacinas são injetáveis.
O Vereador também mencionou a precariedade estrutural da unidade de saúde do bairro Cango, questionando se há um projeto para reestruturação. Cíntia confirmou que a situação está no radar da Secretaria, e que foi firmado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Corpo de Bombeiros devido a falhas na prevenção de incêndios. A reforma exigirá um alto investimento, pois o prédio abriga diversos serviços além do posto de saúde. Informou ainda que foi solicitado recurso ao Estado para a construção de uma nova UBS no bairro.
Em seguida, questionou sobre a construção da nova farmácia ao lado da UPA. A secretária informou que esse projeto não está contemplado nos programas de financiamento estaduais ou federais (como o PAC), e que a obra deverá ser custeada com recurso próprio do município ou emenda parlamentar. A estimativa preliminar é de um custo em torno de R$ 2 milhões.
Por fim, Bruno trouxe o caso do menino Adrian, diagnosticado com autismo e com perda visual progressiva, necessitando de um anel de Ferrara, não contemplado pela tabela SUS. A secretária explicou que o paciente foi encaminhado à referência oftalmológica em Cascavel, que recusou o caso por não realizar esse tipo de procedimento. O caso foi então direcionado à 8ª Regional de Saúde, com pedido de priorização. Ela informou ainda que, no mesmo dia, teria reunião com a promotora da Vara da Infância, Dra. Camile, para buscar alternativas judiciais e tentar agilizar a autorização do procedimento, dada a gravidade e raridade da situação.
Vereador Tiago Correa iniciou sua fala cumprimentando a secretária e parabenizando pela implementação do aplicativo de saúde, destacando que era uma antiga demanda da Câmara e da comunidade, ignorada em gestões anteriores. Reforçou também a importância da farmácia 24 horas, que está em fase de projeto, e mencionou a expectativa da população para sua inauguração, citando o compromisso assumido pela atual gestão.
Em seguida, questionou sobre a atual situação das cirurgias eletivas e dos exames de alta complexidade, destacando que todos os vereadores aprovaram, no início de 2025, um projeto que reorganizava as rubricas da saúde para cobrir um rombo orçamentário herdado da gestão anterior — situação que está sendo investigada por uma CPI. Solicitou informações concretas sobre quando esses atendimentos serão normalizados, dado o impacto direto na população.
A Secretária Cíntia Ramos respondeu que, diante da restrição orçamentária, houve sim redução na liberação de cirurgias eletivas e exames mais complexos, com o objetivo de equilibrar as contas e garantir recursos até o fim do ano. Informou que o município está buscando novas fontes de financiamento, como:
- Rateio com municípios da região, pelo critério de uso dos serviços (modelo "utilizou, pagou");
- Solicitação de emendas parlamentares a deputados estaduais, federais e senadores;
- Confirmação da liberação de R$ 3 milhões pelo deputado federal Giacobo, destinados à compra de instrumental.
Reiterou que a prioridade é manter os serviços essenciais funcionando e que toda ação contábil está sendo feita com responsabilidade, buscando viabilizar a retomada gradual dos atendimentos suspensos.
Vereadora Aline Biezus iniciou parabenizando o trabalho da Secretária Cíntia Ramos e o desempenho da Secretaria de Saúde nos primeiros meses de gestão. Em seguida, solicitou que a secretária explicasse à população como funcionam os blocos de financiamento da saúde (atenção primária, atenção especializada e hospitalar) e qual a distribuição aproximada dos gastos, especialmente destacando a importância do investimento na atenção primária, que é a porta de entrada do SUS. A vereadora também reforçou a importância da capacitação constante dos médicos da rede básica, o que pode evitar encaminhamentos desnecessários e reduzir filas.
A Secretária Cíntia explicou que:
88% dos problemas de saúde podem ser resolvidos na atenção primária;
No entanto, cerca de 70% dos recursos da saúde municipal ainda são consumidos pela atenção especializada e hospitalar, que são muito mais caras;
A meta da atual gestão é equilibrar esses percentuais (idealmente 50% para cada bloco), fortalecendo a rede básica para reduzir os custos e melhorar o atendimento;
Os gastos mensais da Secretaria giram em torno de R$ 15 a 16 milhões;
Folha de pagamento de servidores: cerca de R$ 3,8 milhões, com mais R$ 1,5 milhão em contratação de médicos por pessoa jurídica (PJ);
Medicamentos: aproximadamente R$ 500 mil por mês, pagos com recurso livre, já que não há verba federal ou estadual carimbada para esse fim;
Também reforçou que o município tem arcado com demandas que deveriam ser responsabilidade do Estado, especialmente nos casos de alta complexidade.
O Vereador Silmar Gallina iniciou sua fala agradecendo à presença da Secretária Cíntia Ramos e ao esclarecimento de vários pontos relevantes já abordados. Ele destacou dois temas principais:
Fila de espera para cirurgias eletivas e ortopedia
Questionou sobre a possibilidade de mutirão de cirurgias ortopédicas, diante da grande demanda.
Resposta da secretária: Não é possível realizar mutirões por falta de capacidade instalada (leitos). No entanto, as cirurgias não foram interrompidas, apenas reduzidas devido a limitações orçamentárias. Um relatório com os dados de atendimentos realizados por especialidade será encaminhado aos vereadores.
Mudança da gestão do Semain (Serviço de Atendimento a Crianças com Autismo)
Questionou por que o Semain deixou de estar exclusivamente vinculado à Secretaria de Educação.
Resposta da secretária: A decisão foi técnica. O serviço realiza terapias como fonoaudiologia e psicologia, caracterizando-se como estabelecimento de saúde. Por isso, passará a ser uma fusão entre as secretarias de Saúde e Educação. Isso permitirá cadastramento no Ministério da Saúde, possibilitando faturamento SUS e captação de emendas parlamentares, além de melhorar a infraestrutura em novo local.
Aquisição de veículos
Questionou se os novos veículos adquiridos contam com emendas parlamentares ou recursos próprios.
Resposta da secretária: Os veículos estão sendo adquiridos com recursos de resoluções estaduais antigas (2022 a 2024) que estavam parados e serão utilizados agora com contrapartida do município. Estão previstas:
Duas ambulâncias novas
Veículo utilitário para endemias
Um ônibus
A licitação será compartilhada com o Legislativo. Ressaltou-se também que, por Beltrão não permitir “carona” em licitações, outros municípios também negaram reciprocidade.
O Vereador Julio Spada iniciou destacando a situação orçamentária, mencionando que o investimento de R$ 275.000 representa apenas 0,15% do orçamento de R$ 176.238.800, o que é muito baixo, considerando as muitas demandas e o impacto de uma redução de R$ 13 milhões. Em seguida, ele questionou sobre a previsão para o HGI atingir 100% de sua capacidade.
A secretária Cíntia explicou que o HGI está com 61% de sua capacidade devido a atrasos no cumprimento das etapas do contrato de gestão com o Instituto Santé, causado pela falta de equipamentos. No entanto, com a entrega do instrumental cirúrgico e o tomógrafo (esperado para a próxima semana), o hospital deverá operar com 85% da capacidade até o dia 12 de maio. Ela ressaltou que a UTI ainda não está em operação, mas a estrutura física e equipamentos do hospital são excelentes.
Sobre o Hospital São Francisco, Cíntia informou que ele continua credenciado ao SUS, apesar da intervenção, e realiza alguns serviços, como UTI e neurocirurgia de alta complexidade. Também mencionou que há interesse em transferir esses serviços para o Hospital Regional do Estado. Cíntia finalizou destacando a importância das pessoas que atuam no HGI para que o hospital realmente funcione bem e se comprometeu a manter a Câmara informada.
O Vereador Fernando Misturini iniciou sua fala parabenizando a secretária Cíntia pelo trabalho que vem desenvolvendo diante do desafio de gerir uma secretaria com despesas acumuladas de gestões anteriores, buscando manter ou até melhorar a qualidade do atendimento. Ele fez uma pergunta sobre o processo de atendimento à população, especialmente no caso de pessoas que buscam atendimento direto nos hospitais, como o Hospital Geral Intermunicipal (HGI). A secretária Cíntia esclareceu que a porta de entrada para o SUS é a Unidade Básica de Saúde (UBS), sendo que em casos mais graves a pessoa pode ser encaminhada para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) ou até para o hospital, conforme avaliação dos reguladores do sistema. O SAMU também pode ser acionado em situações de urgência.
Misturini também mencionou a necessidade de mais terapeutas ocupacionais (TO) no atendimento ao autismo, sugerindo que o mandato se colocasse à disposição para ajudar a expandir essa oferta. Sobre o HGI, o vereador questionou o valor estimado investido até o momento na construção do hospital. A secretária Cíntia informou que já foram investidos R$ 8 milhões este ano, com recursos carimbados, além de mais R$ 3 milhões do deputado Jacobo para a compra de equipamentos. Ela também explicou que o terreno foi adquirido em 2011, e que houve adequações no prédio para abrigar os equipamentos, o que gerou mais R$ 500 mil em custos.
O presidente da Câmara, Cidão, agradeceu a presença de Cíntia e a convocação para esclarecer as dúvidas, parabenizando-a pelo trabalho desenvolvido, apesar das dificuldades e cobranças enfrentadas. Ele também destacou que a Câmara está sempre de portas abertas para a secretária e outros gestores.